Maria Lopes e os Grandes Serres,
Olympe de Gouges abolicionista francesa de importante na Revolução Francesa.
Olympe de Gouges, pseudônimo de Marie Gouze (Montauban, 7 de maio de 1748 – Paris, 3 de novembro de 1793) foi uma dramaturga, ativista política, feminista e abolicionista francesa de importante atuação na Revolução Francesa.
Os escritos feministas de sua autoria alcançaram enorme audiência. Foi uma defensora da democracia e dos direitos das mulheres. Na sua obra Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (em francês: Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne) de setembro de 1791, opôs-se ao patriarcado da época e ao modo pelo qual a relação entre homem e mulher se expressava na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, durante a Revolução Francesa. Devido aos seus escritos e atitudes pioneiras, foi guilhotinada.
Vida
Marie Gouze nasceu em uma família pequena e burguesa em 1748 em Montauban, Tarn-et-Garonne, no sudoeste da França. Seu pai era açougueiro, sua mãe, lavadeira. Entretanto, ela acreditava ser filha legítima de Jean-Jacques Lefranc; a rejeição no reconhecimento dessa paternidade influenciou sua defesa apaixonada dos direitos das crianças ilegítimas.
Casou-se jovem em 1765 com Louis Aubry de quem teve um filho, Pierre. Ficou viúva logo depois e, em 1770, transferiu-se para Paris onde adotou o pseudônimo de Olympe des Gouges (nome em que é conhecida hoje).
Pelas pinturas remanescentes, era uma mulher de notável beleza. Em torno de 1784 (ano da morte de seu pai biológico), começou a escrever ensaios, manifestos e iniciou ações de cunho social.
Em 1774, escreveu uma peça de teatro antiescravagista L'Esclavage des Nègres. Pelo fato de ser sido escrito por uma mulher e do assunto controvertido, tal obra somente foi publicada em 1789, no início da Revolução Francesa. Mesmo assim, Olympe demonstrou sua combatividade na luta incessante, porém, sem sucesso, pela encenação da peça. Ao mesmo tempo, escreveu obras feministas relacionadas aos temas dos direitos ao divórcio e às relações sexuais fora do casamento.
Como apaixonada advogada dos direitos humanos, Olympe de Gouges abraçou com destemor e alegria a deflagração da Revolução. Mas logo se desencantou com a constatação de que a égalité (direitos iguais) da Revolução não incluía as mulheres no que se refere à igualdade de direitos.
Em 1791 ela ingressou no Cercle Social — uma associação cujo objetivo principal era a luta pela igualdade dos direitos políticos e legais para as mulheres. Reunia-se na casa da conhecida defensora dos direitos das mulheres Sophie de Condorcet. Foi aí que Olympe expressou pela primeira vez sua famosa assertiva: "a mulher tem o direito de subir ao cadafalso; ela deve igualmente ter o direito de subir à Tribuna".
No mesmo ano, em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ela escreveu a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã.[1] Logo depois, escreveu o Contrato Social, nome inspirado na famosa obra de Jean-Jacques Rousseau, propondo o casamento com relações de igualdade entre os parceiros.
Por se envolver ativamente nas questões que lhes pareciam injustas, como a condenação à morte de Luís XVI, por ser contra a pena de morte, e desapontada em suas expectativas, passou a escrever com mais e mais veemência. Em 2 de junho de 1793, os Jacobinos prenderam os Girondinos e seus aliados, enviando-os em seguida à guilhotina. Nesse mesmo ano, Olympe escreveu a peça Les trois urnes, ou le salut de la Patrie, par un voyageur aérien e, por causa dela, foi presa. A peça demandava a realização de um plebiscito para escolher uma das três formas potenciais de governo: República indivisível, Governo federalista e Monarquia constitucional. Os Jacobinos, que já haviam executado uma rainha, não estavam dispostos a tolerar a defesa dos direitos das mulheres: exilaram Sophie de Condorcet e, um mês depois, em 2 de novembro de 1793, guilhotinaram Olympe de Gouges. Fundou o clube das tricoteuses.[2][3]
Obras
O pensamento de Olympe de Gouges regista um momento em que o arqueofeminismo[4] parecia caminhar para seu objetivo de devolver às mulheres os direitos dos quais haviam sido privadas por uma longa dominação masculina. Em suas obras, que vão desde escritos políticos e manifestos, até peças de teatro, onde teve mais destaque, há uma clara defesa àqueles que, de alguma forma, eram considerados ilegítimos na sociedade.[5] Com seu pai, o importante dramaturgo Lefranc de Pompignan como padrinho, Olympe de Gouges teve uma ampla recepção nos teatros parisienses. Suas peças eram verdadeiros panfletos políticos, que denunciavam desde a exploração dos escravos (L'esclave des noirs, 1785; Le marché des noirs, 1790), até o confinamento das mulheres (Le Couvent ou les væux forcés, 1790), além de incentivar o patriotismo (Les Démocrates et les Aristocrates; Le Temps et la liberté, 1790). Como filósofa, Olympe de Gouges não elaborou grandes conceitos e apesar de seu aparente pioneirismo, de Gouges não estava sozinha enquanto dramaturga — estavam junto a ela Théroigne de Méricourt (1762-1817), Sophie de Grouchy (1764-1822), Etta Palm d’Aelders (1743-1799), Claire Lacombe (1765-1809) e muitas outras. As mulheres, assim como Gouges assistiam os debates da Assembleia Constituinte para extrair conteúdo para suas peças.
Declaração dos Direitos da Mulher
Em um de seus principais escritos, a Declaração dos Direitos da Mulher[4] (1791), Olympe de Gouges reivindicou através de uma espécie de releitura irônica à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão a igualdade em direitos da mulher e do homem, denunciando o encobrimento provocado pelo termo “Homens”, o qual, teoricamente nesse caso, funcionaria como sinônimo de humanidade. Para Olympe de Gouges, os direitos negligenciados pelos quais ela escreve a Declaração são frutos de um “império tirânico”[6] de opressão do homem, que, ao contrário dos animais e do resto da natureza, costurou para si uma exceção a esse comportamento natural de cooperação harmoniosa entre os sexos. A declaração, ao conferir exclusivamente à nação a soberania, reforça também a igualdade entre os sexos, visto que nenhum indivíduo poderia exercer autoridade que não fosse imediatamente ligada à nação.
Apesar de confiar na Revolução Francesa e enxergar em seu advento a inauguração de um novo momento em que os direitos humanos funcionariam de forma plena e sem distinção de gênero ou raça, de Gouges, em alinhamento aos Girondinos mais moderados, era partidária de que se estabelecesse uma monarquia constitucional[7] opondo-se ao estado republicano e, posteriormente, à morte de Luís XVI. Em seu Epílogo à Declaração do Direito da Mulher, entretanto, de Gouges convoca as mulheres francesas a se questionarem quais foram as vantagens que obtiveram na revolução.[8] No seu entendimento, “revolução não significaria um ato de violência, mas uma mudança de consciência”.[9] Assim, de Gouges afirma em sua carta à Rainha Marie Antoinette, a quem dedicou A Declaração dos Direitos das Mulheres que “essa revolução só acontecerá quando todas as mulheres tiverem consciência de seus destinos deploráveis, e dos direitos que elas perderam na sociedade”.[8] Para de Gouges, portanto, era necessária uma revolução filosófica, digna dos princípios sagrados da humanidade.
Homenagens recentes
Em 6 de março de 2004, em Paris, uma praça foi denominada como Place Olympe de Gouges. A praça foi inaugurada pelo prefeito da região, Pierre Aidenbaum, juntamente com a primeira vice-prefeita de Paris, Anne Hidalgo. Na ocasião a atriz Véronique Genest leu um trecho da Declaração dos Direitos da Mulher.
Em 2007, a candidata presidencial francesa, Ségolène Royal expressou o desejo de que os restos mortais de Gouges fossem movidos para o Panteão. No entanto, seu corpo permanece, como os das outras vítimas do regime de terror, perdido devido ao sepultamento em covas comuns, de modo que qualquer enterro (como o de Condorcet) seria cerimonial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário